Sempre falamos que a fotografia conta a história por trás de cada família,
as vezes contamos histórias lindas e emocionantes, ou até mesmo tristes e cheias
de obstáculos, pois cada história tem suas particularidades.
Acreditamos, de verdade, que
TODA HISTÓRIA MERECE E DEVE SER CONTADA,
cada uma do seu jeitinho!
Há algumas semanas atrás estávamos a procura de histórias que mereciam
ser contadas através de um lindo ensaio de gestante, história esta que
presentearíamos com um lindo ensaio e um fotolivro, pra essa mamãe
ter sempre como recordar este momento e eternizar essa história.
Dentre tantas histórias lindas que chegaram ao nosso conhecimento,
uma em especial não vamos conseguir esquecer,
a da mamãe Daiane a espera de sua Aurora.
As fotos foram feitas nos Pavilhões da Festa da Uva e nas Réplicas,
onde a mamãe Daiane, que já teve um passado ligado a fotografia,
já havia fotografado algumas amigas gravidinhas e resolveu reviver a
emoção do momento naquele mesmo lugar.
Desta vez ela foi a personagem principal, com a linda e emocionante
história da pequena Aurora que vocês podem conferir abaixo.
Aurora
Parte 1
“Difícil encontrar onde inicia-se a história da Aurora. Minha primeira filha creio que surgiu no meu desejo de ser sua mãe. Eu exercia o ofício de Educadora Social num abrigo da Assistência Social de Caxias há seis anos atrás, minha função era tipo ser “mãe”. Percebi naquela ocasião que eu já estaria pronta para cuidar do desenvolvimento de um novo ser…
No entanto, uma nova vida é possível somente com a união da força feminina com a masculina, a união sagrada, e a matéria de criação da vida é o amor. Ô doce busca, mas que com o tempo descobrimos que ocorre somente quando estamos preparados… ou quem sabe os acontecimentos
precedentes sejam uma forma de preparação…
Ano de 2017… eu dizia que estava trabalhando demais e que queria ter tempo para encontrar um namorado, casar e ter filhos! As circunstâncias do destino providenciaram o tempo necessário e 2018 inicia-se com uma luz diferente… Eu e Gilson, pais de Aurora nos aproximamos no momento em que nossos intuitos se encontraram! “Quero um companheiro que dance comigo”… e assim, iniciamos a dança do encontro, do amor, da criação da vida e de aprendizagens.
Atraso menstrual, exame de farmácia no primeiro dia de atraso (o ciclo era bem regular, inclusive estávamos cientes do período fértil), exame de sangue com resultado positivo... e aguardar o desenvolvimento dos primeiros meses. Primeira ecografia e a primeira vez em que ouvimos o coração desse serzinho criado pelo nosso intermédio! Os livros, as consultas pré-natal e a segunda eco para checar o tubo neural. O doutor examinou e nos deu a notícia com lágrimas nos olhos – um problema de desenvolvimento incompatível com a vida. Acrania, que se torna anencefalia.
A estrada nos aguardava na sequência e ambos teríamos aulas na capital.
Enquanto eu dirigia, Gilson pesquisava e me contava dos resultados: os riscos, as causas, as possibilidades. Soubemos de casos que viveram até 3 anos. A possibilidade já autorizada pela justiça de aborto…
Porém não tivemos dúvidas:
se essa vida surgiu, o que nos cabe é cuidar dela e amá-la, até quando ela estiver conosco, até quanto tempo for necessário. A vida é uma bênção e a gratidão por sua existência está acima do tempo que ela precisará existir.
Assim, as semanas foram passando… Aurora é como os primeiros raios de luz do dia… marca de forma definitiva um ciclo de nossas vidas. O mais belo e sublime… esse momento tão especial em que me sinto cheia de graça…
Aurora tem me ensinado muito… imagine, eu inocente pensava que iria ensiná-la… tenho descoberto que as coisas não acontecem simplesmente como ou porque queremos… mas que coisas lindas acontecem se soubermos enxergar e que mesmo o que não queremos que ocorra contém em si toda a oportunidade de se transformar em força, caminho, amor.
Dentre as primeiras pesquisas, um apelo: quem tiver diagnóstico de anencefalia pode seguir com a gestação, doar os órgãos e colaborar com a vida de outros bebês.
Assim, Aurora vive o quanto precisar e quem sabe encerrará sua jornada com a missão de ajudar outras crianças. Agora, está nas suas plenas 32 semanas de desenvolvimento em meu ventre. Parece que sabe que seus pais alimentam a alegria de dançar e baila muito aqui dentro. Sua dança da vida,
a qual me acompanha e fez nascer o sol em meu ser.”
Daiane Carbonera Caxias do Sul, 30 de outubro de 2018
A história continua lá no finalzinho da página!
Aurora
Parte 2
"Durante a gestação da Aurora, ouvi coisas inesquecíveis: “Agora você vai entender o significado do ditado - fulana tem o rei na barriga”; “O corpo humano é tão maravilhoso, que os nossos órgãos todos gentilmente se ajeitam e dão lugar para o que é a prioridade: a nova vida sendo gerada”; “É bom que sintamos dor, pois senão nunca iríamos querer que eles saíssem de dentro de nós”; “Confia em Deus, que para ele, tudo é possível”... Além de outros dizeres e manifestações de delicadeza sem fim.
A graça da magia da vida contagiava quem passasse por nós, como se a vibração de nossos corações ressoassem nos demais corações humanos e até dos animaizinhos, todos esses seres viveram junto esse amor de Aurora!
Em 21 de novembro, com 35 semanas de desenvolvimento, a inteligência superior decidiu que era a hora de eu dar a luz à Aurora. Enquanto Gilson segurava forte minha mão e ao som de sua canção, Aurora iluminou a sala de parto do local que escolhi para sua chegada. Ela era pequena em tamanho, mas muito grandiosa no sentido de sua existência. Por um pouco mais de duas horas, nossos corações bateram bem próximos um do outro e senti sua linda mãozinha a envolver meu indicador... Eu, Gilson e Michele, minha amorosa Doula, a tivemos em nosso colo, experiência inesquecível por toda a nossa vida.
Quatro dias antes desse dia ímpar, inspirada em uma história africana, foi realizada uma cerimônia de criação da Canção da Aurora. A partir de uma preparação realizada com muito carinho e atenção, nos reunimos em uma dezena de pessoas em meio à natureza e expressamos de forma espontânea uma canção especial para Aurora, a qual seria gravada e tocada no momento do seu nascimento e em outros momentos fundamentais de sua vida. Enquanto criávamos sua canção, Aurora se divertia e dançava em meu ventre. Em 21 de novembro, sua canção foi reproduzida duas vezes, na sua chegada e ao percebermos o momento de sua despedida.
“Aurora foi muito suave e gentil em suas duas passagens” - ouvi de uma pessoa amiga. Mesmo com a presença da falta dela, guardo comigo principalmente a memória de sua vida, da concretização do mais profundo milagre da existência. No momento em que Aurora Carbonera Palhano nasceu, também nasceu uma mãe e um pai.
A legislação brasileira protege a vida – embora permita o aborto – em se tratando de nascimento de bebê com anencefalia. A doação de seus órgãos não ocorreu pois precisaria que o coração parasse para ter o diagnóstico de morte, e a parada cardíaca inviabilizaria a utilização dos órgãos.
Seu corpinho foi velado e cremado, suas cinzas farão parte do mar a partir da
aurora do dia mundial da paz, 40 dias após seu nascimento.
A vida da Aurora ajuda outras crianças, pois pode inspirar outros futuros pais a aceitar e serem gratos pelo que a natureza nos oferece – mesmo que seja um bebê com perspectiva de não sobreviver por muito tempo na vida extrauterina. Pode inspirar a cada um de nós a valorizar o bem tão precioso que com o amor de nossos ancestrais nos é dado como dádiva: a vida. Aurora viveu e partiu, mas nós continuamos aqui e temos a chance de honrar com ainda mais alegria a cada detalhe desse presente chamado vida. Os movimentos de vida podem ainda ter outros sentidos que podemos demorar a compreender...
Certo momento surgiu também a consciência de doação de leite materno. Descobri que Caxias do Sul não tem ainda banco de leite e que até então não há estrutura nos serviços de saúde para viabilizar essa doação. Enfim... várias percepções que são primeiros passos para transformar a realidade.
Aurora seguiu sua jornada de luz, e a expressão desse encanto permanece
no amor presente em cada um que fez parte dessa rota.
Quanto a mim, continuo cultivando propósitos luminosos e,
a cada dia que o sol nascer, vou me lembrar que os primeiros
raios dessa luz têm um nome que sempre fará parte da minha vida... AURORA."
Daiane Carbonera
Caxias do Sul, 30 de novembro de 2018
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